sábado, 12 de fevereiro de 2011

EXPLICANDO A UM FILHO COMO SÃO AS MULHERES

Gosto de imaginar que se eu tivesse um filho ele se chegaria um dia para mim , aí pelos 11, 12 anos, daria um daqueles suspiros introdutórios, eu pararia de ler o meu livro, esperaria um tempo, ele diria: "Sabe pai, eu não entendo as mulheres"; e eu daria um tempo, não lhe faria perguntas embaraçosas sobre a razão das suas inquietaçõens, faria uma introdução genérica, e pediria que ele reparasse bem nelas, na maneira que elas têm de se colocar fisicamente no mundo, porque isso ajuda a perceber como são especiais, a perceber como o jeito de ser delas é solicita um jeito diferente de lidar com elas e diria que quem não percebe isso não chega nunca a uma boa convivência com elas.

Veja, eu lhe diria, o jeito como elas param , esperando alguém ou no ônibus. Elas não se plantam em cima das duas pernas, como fazem os homens, pesados. Elas põem um pezinho um pouco na frente do outro, geralmente o direito na frente, e põem a ponta para fora, quase como numa posição de balé.
Repare, eu diria, no jeito de sair da piscina. Não, dão aqueles impulsos e levantam logo o pé até a borda, como os homens. Não. Dão o impulso e primeiro sentam-na de lado na borda, depois tiram as pernas fechadinhas da água, só ai põem os pés na borda, com os joelhos erguidos, e depois é que se levantam. Têm muito menos coisas para se ver do que os homens, mas se enrolam logo em toalhas, pareôs. Timidez? Não. Segredos.

Veja como andam, filho, como mostram, muito mais do que o homem, a sua origem animal. Qualquer animal tem essa noção de espaço que as mulheres mantiveram, esse estado de alerta aos movimentos em volta. E soltam o corpo ao caminhar, do jeito que os bichos fazem.

Repare, filho, na maneira de discutir, seja sobre um filme, seja sobre uma relação. Elas desprezam argumentos lógicos, esse recurso pouco estimulante dos homens. Preferem a paixão, a emoção por isso não se deixam nunca convencer, pois seria admitir que a paixão pode menos que a lógica.

Veja, eu diria ainda, veja o jeito de elas dirigirem um automóvel. Dirigem bem talvez por causa daquela mesma noção de espaço que têm para caminhar. Mas reparem como não deixam carro nenhum se desviar para entrar na faixa delas quando há um carro quebrado na frente, na frente ou quer entrar na faixa delas vindo de uma rua transversal. Talvez, sei lá, talvez seja o costume do ladies firt, de sempre cedermos a passagem para elas.

Olhem como se sentam. Preste atenção como põem os joelhos e tornozelos juntinhos, e não é por estarem de saia curta, não. Sentam do mesmo jeito quando estão de calças compridas. É o jeito delas, de guardarem as coisinhas delas. Tem umas que viram os joelhos para um lado e passam uma perna por trás da outra; algumas até apóiam a ponta de um dos pés no chão e descansam outro pé sobre o calcanhar daquele. 

Homem, você vê, é daquele jeito esparramado, grosso. Compare com a delicadeza do gesto delas.
Repare no modo de conversar. São de uma afetividade, de um interesse que o homem não consegue. Detalhes e picuinhas dão colorido ao que elas falam. Mesmo as mulheres eruditas são capazes de falar e ouvir futilidades durante horas. Acho que elas gostam é da conversam em si, da musicalidade das vozes, como pássaros. Talvez os homens falam porque é preciso, e as mulheres porque é gostoso.

Repare no olhar rápido com que elas fazem o inventário de uma vitrine. O olho delas capta na hora o que elas querem; o nosso titubeia de artigo em artigo, sem ver.

Veja meu filho, eu diria, o modo de elas dormirem, compare. O homem se espalha, parece ficar maior na cama. A mulher diminui, se acomoda, se adapta, cabe.

Essas coisas eu diria se tivesse um filho, e muito mais, sobre o jeito delas chorar, de dançar, de cozinhar, de correr, de tomar sorvete, de tocar nos cabelos, de paquerar – tantas coisas -, mas só tenhos filhas, e filhas não precisam de explicação nenhuma, porque elas sabem, filho, elas sabem como são os homens, esses óbvios.

ÂNGELO, IVAN

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