Veja, eu lhe diria, o jeito como elas param , esperando alguém ou no ônibus. Elas não se plantam em cima das duas pernas, como fazem os homens, pesados. Elas põem um pezinho um pouco na frente do outro, geralmente o direito na frente, e põem a ponta para fora, quase como numa posição de balé.
Repare, eu diria, no jeito de sair da piscina. Não, dão aqueles impulsos e levantam logo o pé até a borda, como os homens. Não. Dão o impulso e primeiro sentam-na de lado na borda, depois tiram as pernas fechadinhas da água, só ai põem os pés na borda, com os joelhos erguidos, e depois é que se levantam. Têm muito menos coisas para se ver do que os homens, mas se enrolam logo em toalhas, pareôs. Timidez? Não. Segredos.
Repare, filho, na maneira de discutir, seja sobre um filme, seja sobre uma relação. Elas desprezam argumentos lógicos, esse recurso pouco estimulante dos homens. Preferem a paixão, a emoção por isso não se deixam nunca convencer, pois seria admitir que a paixão pode menos que a lógica.
Olhem como se sentam. Preste atenção como põem os joelhos e tornozelos juntinhos, e não é por estarem de saia curta, não. Sentam do mesmo jeito quando estão de calças compridas. É o jeito delas, de guardarem as coisinhas delas. Tem umas que viram os joelhos para um lado e passam uma perna por trás da outra; algumas até apóiam a ponta de um dos pés no chão e descansam outro pé sobre o calcanhar daquele.
Homem, você vê, é daquele jeito esparramado, grosso. Compare com a delicadeza do gesto delas.
Repare no modo de conversar. São de uma afetividade, de um interesse que o homem não consegue. Detalhes e picuinhas dão colorido ao que elas falam. Mesmo as mulheres eruditas são capazes de falar e ouvir futilidades durante horas. Acho que elas gostam é da conversam em si, da musicalidade das vozes, como pássaros. Talvez os homens falam porque é preciso, e as mulheres porque é gostoso.
Repare no olhar rápido com que elas fazem o inventário de uma vitrine. O olho delas capta na hora o que elas querem; o nosso titubeia de artigo em artigo, sem ver.
Essas coisas eu diria se tivesse um filho, e muito mais, sobre o jeito delas chorar, de dançar, de cozinhar, de correr, de tomar sorvete, de tocar nos cabelos, de paquerar – tantas coisas -, mas só tenhos filhas, e filhas não precisam de explicação nenhuma, porque elas sabem, filho, elas sabem como são os homens, esses óbvios.
ÂNGELO, IVAN
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